Todo inverno é a mesma coisa: quem sofre com doenças respiratórias tem mais crises e os serviços de urgência dos hospitais ficam lotados. As justificativas para esse cenário que se repete no meio do ano são o ar seco, típico dos meses de frio, e também a inversão térmica, um fenômeno climático que aumenta a concentração de poluentes nas grandes cidades. Em condições normais, o ar se resfria à medida que nos distanciamos da superfície da Terra.

Inversão

Já no inverno, o solo se resfria mais rapidamente. O ar quente continua a subir, mas o ar frio mais próximo ao solo, que é mais denso, fica parado. Dessa forma, a poluição também fica retida perto da superfície. É a chamada camada de inversão, que pode ter de dez metros a dez
quilômetros em uma noite típica de frio, sem nuvens. As inversões térmicas, ao contrário do que se pensa, também acontecem nas madrugadas de verão, mas são bem mais intensas no inverno, quando as noites são mais longas, mais frias e com pouco vento. A baixa umidade do ar também facilita o fenômeno, que pode ser visto a olho nu em cidades poluídas como São Paulo – uma faixa cinza alaranjada cobre a cidade no
fim da tarde.

Segundo a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), a concentração de poluentes aumenta em até 80% durante o inverno em locais onde há grande número de indústrias e veículos em circulação. Isso significa mais monóxido de carbono, enxofre, hidrocarbonetos, ozônio e partículas inaláveis aos montes, que chegam a atingir os alvéolos pulmonares.

Além do agravamento de doenças respiratórias e da clássica irritação nos olhos, a exposição crônica ao poluído tem consequências menos óbvias, mas igualmente perigosas. É possível sofrer com aumento da pressão arterial, o que pode deflagrar eventos cardiovasculares, como
infarto e derrame; estudos mostram que a poluição pode gerar problemas cognitivos de forma irreversível; e gestantes têm maior risco de apresentar pré-eclâmpsia e sofrer parto prematuro; só para citar alguns problemas.

Pesquisas ainda demonstraram que a exposição por mais de dois anos a apenas uma das partículas inaláveis presentes na poluição atmosférica, o MP10, é capaz de aumentar em 32% o risco de morte para diabéticos, em 28% para portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e em 27% para quem tem insuficiência cardíaca.

Baixa umidade

O ar seco é o outro grande vilão da saúde no inverno, já que resseca as mucosas e facilita infecções. É por isso que a Cetesb recomenda que, com umidade relativa do ar entre 20 e 30%, é bom evitar exercícios físicos ao ar livre entre 11 e 15 horas, e umidificar o ambiente com vaporizadores, toalhas molhadas ou pelo menos recipientes com água.

Se a umidade estiver entre 12 e 20%, deve-se evitar exercícios físicos e trabalhos ao ar livre entre 10 e 16 horas, além de seguir as orientações anteriores. E, se a umidade for menor que 12%, é preciso interromper qualquer atividade ao ar livre entre 10 e 16 horas, e evitar atividades que exijam aglomerações de pessoas em recintos fechados.

Pingar colírio de soro fisiológico nos olhos e nas narinas, além de beber muita água, são outras medidas recomendáveis para diminuir os efeitos negativos do ar seco. Já fugir da poluição é um conselho bem mais difícil de seguir.

Por Tatiana Pronin
Do UOL, em Sao Paulo


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